Tiffany goela abaixo? Sim!

Logo no início da discussão, quando o Brasil todo estava vidrado em vetar a participação da Tiffany na Superliga Feminina, eu passei dias pesquisando, refletindo e tentando ser empática para não ferir nenhum dos lados. Afinal, o quanto a Tiffany pode incomodar uma mulher cis* em quadra? E você que é apenas expectador, o que tem a ver com isso?

Marcello Ferrazoli/Vôlei Bauru

A verdade é que tiveram que esperar praticamente a Superliga acaba para admitir que Tiffany não é um monstro, não é anormal, e o principal, não é um homem jogando entre mulheres cis. Nunca foi. Foram 60% de tônus e forças perdidos por ela após o processo de transição de gênero. Um alcance  de salto caído drasticamente de 3,60m para 3,15m, média de jogadoras como Natália e Tandara. Não há mais nada que plante dúvidas sobre o condicionamento físico da Tiffany. Ela não leva mais vantagem, não existe mais essa possibilidade.

Conforme os jogos foram passando e as performances da ponteira pôde ser observada, ficou notório que ela não tem potencial ofensivo do sexo masculino, e joga de igual pra igual com uma mulher. Ou melhor, vou explicar isso na linguagem coloquial do voleibol: leva toco, bate vários balões, erra saque e tem bolas normalmente defensáveis, como pude observar nos jogos transmitidos que tive acesso.

Lá atrás, vi grandes jogadoras, algumas, que conheço pessoalmente e simpatizo com a índole, serem taxadas de 'transfóbicas' por não concordarem, de imediato, com a participação da Tiffany na competição. O que ninguém levou em consideração era o momento o qual elas viviam. Um mercado feminino desvalorizado, desestimulante, um ranking que atrapalha o mercado para atletas mais experientes e que acaba sendo estopim para a aposentadoria precoce de algumas que não tem paciência de 'andar conforme os clubes mandam'. Coisas como essas influenciaram a opinião delas por se sentirem ameaçadas com a presença de alguém, na época, 'teoricamente' mais forte. Não foi fácil pra ninguém. Tiffany sabe disso e não as julga, não julgou nem mesmo a ex-atleta Ana Paula, que passou dos limites com uma perseguição virtual desnecessária à Tiffany. Tiffany é digna de todo respeito, carinho, compreensão e empatia que uma minoria no país tem direito de receber.

Estudo, maturidade, política e a própria fisiologia hoje são capazes de afirmar, sem sombra de dúvidas, que Tiffany tem mais é que disputar a Superliga Feminina sim. A mensagem que eu realmente quero deixar aos leitores e amantes do voleibol é a seguinte: a quem errou no passado em se omitir quanto à participação de Tiffany, não julgue, acolha. A quem ainda tem dúvidas sobre o desempenho da Tiffany, assista, observe e respeite, não é difícil de perceber. E a quem sempre esteve empenhado em garantir o direito da Tiffany jogar diante de mulheres cis, permaneça na luta. Passamos agora para o próximo passo: vê-la defendendo a bandeira verde e amarela.

*cissexual ou cisgênero são termos utilizados para se referir às pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado em seu nascimento.
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About Juliana Amaral

Brasileira e alagoana. Proprietária e Redatora da United for Volley, estudante de Jornalismo e Design Gráfico, jogadora de voleibol e amante de música pop.

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